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TÍTULO: Costureira de Sucesso
LOCAL: S.Tomé e Príncipe - S. Tomé
DATA: 1996
INFORMANTE
SEXO: F
IDADE: 35 anos
ESCOLARIDADE: 9 anos
PROFISSÃO: Costureira
OBSERVAÇÕES: 'environantes' será um estrangeirismo que significa «circundantes».
- onde é que aprendeu a coser?
-> aprendi a coser cá em São Tomé, nas madres canossianas.
- e... começou a coser e isso foi suficiente para fazer de si uma grande costureira?
-> eh, bom, com a experiência do dia-a-dia, comecei fazendo qualquer coisinha depois da formação, mas aperfeiçoei-me mais em Libreville.
- eh, quer contar-me como é que foi, como é que chegou a este ponto? ao ponto de ser uma grande costureira, considerada uma das grandes costureiras aqui de São Tomé, com um atelier montado, com aprendizes, com uma vertente de, de escola de costura. conte-me como é que chegou a este ponto.
-> bom, em Libreville, comecei por trabalhar numa... fábrica de confecção industrial, e depois, dois anos depois, dei aulas de costura, e dois anos, os últimos anos que eu fiz em Libreville trabalhei num atelier público. portanto, esses seis anos de experiência foram suficientes para, eh, o, foram suficientes para aperfeiçoar bem na costura e... por causa disso explorar o pouco que eu... tive, decidi fazer qualquer coisa por conta própria e...
- e... esteve oito anos em Libreville, eh, porque é que decidiu regressar a São Tomé? não estava bem, lá em Libreville? não gostou de Libreville?
-> gostei, mas preferi voltar à minha terra, porque eu penso que na minha terra posso fazer qualquer coisa melhor para mim e também para o bem... do nosso povo.
- só por essas razões é que voltou... ou porque a vida era muito dificil lá em Libreville?
-> dificil é... para algumas pessoas, fácil para as outras, mas, eu penso que com a costura em qualquer parte do mundo não há assim tão dificuldade, desde que a pessoa é capaz de fazer trabalhos perfeitos, com a costura consegue-se sobreviver em toda a parte.
- que tipo de clientes é que tem aqui em São Tomé?
-> eh, tenho... várias categorias de cliente. tenho clientes das zonas... 'environantes', tenho clientes que vêm de fora, da classe média, da classe, bom, de todas as classes sociais.
- já coseu assim para alguém, e cose para, mais para homens ou para senhoras, ou cose para toda a gente, para crianças? eh, o que, eh, qual é o grupo que constitui o grosso da sua clientela?
-> o grupo que constitui o grosso da minha clientela s[...], é, é o grupo das senhoras, principalmente.
- e já coseu assim para alguma individualidade, para, para uma pessoa, uma pessoa da, da alta sociedade, alguém, algum notável?
-> bom, eu não posso dizer para algum notável, mas eu já cosi para pes[...], para grandes senhoras até, eu penso, já vieram cá ao meu atelier coser, eh, d[...], fazer os seus vestuários!
- hum, e... a senhora disse que vem gente de todo o tipo. e... quais são as dificuldades, os principais problemas que enfrenta no seu dia-a-dia como costureira? ou é uma profissão fácil, que não tem problemas, porque cada ramo, cada profissão tem os seus problemas, e o seu ramo, como é que é?
-> bom, normalmente quando a pessoa, eh, ama a sua profissão, tem probl[...], eh, tem problemas n[...], mas não são assim tão graves. bom, a gente trabalha com perfeição e quando se trabalha com perfeição não tem assim graves problemas. mas, em tudo na vida há, eh, decepções e, e, como dizer?
- triunfos?
-> triunfos. hum, por exemplo, pode haver casos de dece[...], decepções, por exemplo, uma falha em qualquer, ah, confecção e se o cliente reclamar é sem dúvida que o cliente tem toda a sua razão e a gente dá razão a quem tem razão. mas isso acontece muito poucas vezes comigo.
- portanto, tem mais êxitos que
-> sim, que decepções.
- decepções. e, mas com que objectivo é que tem esse, esse...
-> [...]
- é que dá aulas de, de, de corte e costura?
-> esta formação de corte e costura é com o objectivo de formar pessoas capazes de me ajudar não só a mim e também ajudar essas mesmas pessoas porque não vou, eh, me responsabilizar por todas as pessoas. por exemplo, as pessoas se formam, posso aproveitar algumas delas para... o meu bem-estar mas as outras também com o conhecimento que elas têm, também podem for[...], eh, sobreviver ou trabalhar noutras partes e ganhar o pão de cada dia.
- quer dizer que também está a prestar um serviço à sociedade...
-> sim, sim. é isso que eu disse em princípio, que eu voltei à minha terra não só para o meu bem-estar, também para o bem-estar dos outros...
- hum. quer dizer, a senhora pode ser considerada uma pequena empresária. ah, e nós sabemos que aqui em São Tomé não é fácil, eh, sobretudo a uma mulher, eh, singrar no negócio, se[...], singrar como empresária. a senhora quer falar-me um pouco da sua experiência como empresária? como pequena empresária que é?
-> bom, como pequena empresária que sou, eh, bom, é, eh, como dizer, em princípio, há dificuldades, mas também exige muita coragem. como mulher que sou, eh, ter essa decisão de, de formar essa pequena empresa e empregar pessoas e trabalhar ao público para pessoas e, mas se não eu, ah, o conselho que eu dou às senhoras como eu é que elas também possam fazer o mesmo, ter a coragem de, de procurar qualquer coisa para o bem delas e para o bem da nação, a fim de, como dizer, desenvolvermos a nossa, hum, capacidade, porque não, não só os homens têm, devem fazer qualquer coisa mas as mulheres também devem manifestar o, esse desejo de ajudar os seus maridos, eh, em determinadas coisas, porque não só homens, sabemos que a nossa sociedade hoje tudo está difícil, não só o homem ainda pode trabalhar mas a mulher também pode fazer qualquer coisa para ajudar a sua família e também a sociedade.
- ouça, muita gente se queixa de que não consegue levar a cabo, ah, empresas desse género por não terem qualquer espécie de apoio por parte do Estado. a senhora também é dessa opinião? é de opinião que o Estado deve dar sempre apoio?
-> bom, eu não sou da opinião que o Estado deve dar apoio. mas em princípio, se o Estado puder dar apoio pode muito bem dar! porque, bom, em princípio, quando não se tem nada, não se consegue nada de nada. é preciso ter alguma coisa para conseguir. eh, bom, em princípio, se alguém não tem nada e tem esse desejo de fazer qualquer coisa, se o es[...], se pode alcançar um apoio do Estado, muito bem! mas se não pode, pode fazer qualquer coisa. por exemplo, uma pessoa formada pode, com o pequeno que, no, no, qualquer soma que tiver, pode arranjar uma máquina, eu também comecei assim, em princípio com uma máquina, duas, três, quatro e cinco e pouco a pouco a pessoa se desenvolve, tendo vontade.
- sim senhora. e... que perspectivas é que tem para o futuro? eh, a senhora ainda é jovem?!
-> sou jovem.
- tem trinta e cinco anos!
-> tenho, sim.
- pensa permanecer a vida inteira neste ramo ou pensa alargar o negócio, como é que é?
-> bom, nesta ordem de ideia, por isso tenho f[...], formado pessoas. essa formação não é só, eh, para ter pessoas para trabalhar para mim, mas sim pessoas que me po[...], que me possam substituir para além, porque eu posso, por exemplo, estar cansada ou, hum, hum, necessitada de, de umas férias, e se tiver pessoas capazes para me, para me substituir, essas pessoas podem ficar no meu lugar e eu... posso-me repousar ou se deixarem as outras pessoas podem continuar.
- mas isso é a m[...], a curto ou médio prazo. a longo prazo, o que eu gostaria de saber é, é se tem ideia de que vai ser o seu futuro. se vai continuar como costureira, se vai abrir outras filiais, que, que ideias é que tem de, que perspectivas de futuro é que tem?
-> bom, ideias de futuro, eh, que tenho é de progredir. e se no caso conseguir progredir, arranjar outras filiais! não só no local onde estou mas noutras partes, fazer, por exemplo, fazendo pronto-a-vestir, eh, e, e como o pronto-a-vestir também que serve muito bem para o nosso país e com isso tudo não, eu sozinha não poderei, eh, trabalhar, mas é, é com, como disse atrás, que com a, com as outras pessoas podia dar a nossa contribuição.